PRIMEIRA HABILIDADE
Para trabalhar bem com colegas
estrangeiros, é preciso encarar o risco de se sentir falso e incompetente.
Andrew L. Molinsky
O que, então, impede que o façam?
Tendo passado os últimos dez anos estudando centenas de excelentes
profissionais de gestão que haviam sido lançados em culturas desconhecidas ou
trabalhavam com colegas estrangeiros, creio que o que falta a Marco, a Anat e a
Seungwoo é uma habilidade muito específica que chamo de “code-switching
cultural”: a capacidade de alterar seu comportamento em situações específicas
para acomodar normas culturais distintas. Essa alternância de códigos requer
muito mais do que a mentalidade, a informação e a motivação certas. Exige a
capacidade de administrar desafios psicológicos surgidos quando alguém tenta converter
em ação o conhecimento cultural.
É comum o executivo se sentir
inautêntico quando seu comportamento está em conflito com valores e crenças
arraigadas — e duplamente incomodado quando os outros acham que é um verdadeiro
reflexo daquilo que ele, o executivo, é. Esse indivíduo pode, ainda, se sentir
incompetente — nervoso e constrangido por estar agindo de forma tão distante de
sua zona de conforto. No íntimo, pode se sentir frustrado e revoltado por ter
tido de mudar, para começo de conversa. Afinal, não é comum o chefe ter de
adaptar o próprio comportamento às necessidades dos subordinados; em geral, é o
contrário. Juntas, essas emoções podem impedir uma boa alternância de códigos
pelo executivo, pondo em risco sua carreira e o sucesso da empresa.
A boa notícia é que é possível
superar o problema. O primeiro passo é diagnosticar os desafios que se
enfrentam. No caso de Marco, uma profunda convicção na autonomia dos
subordinados estava impedindo o italiano de adotar o estilo de liderança
autoritário, e muitas vezes ríspido, que a equipe em Mumbai parecia precisar
para cumprir prazos. Sempre que o progresso era insuficiente a ponto de ter de
dar ordens aos gritos, Marco se sentia culpado (“Não devia tratar o pessoal
desse jeito!”) e ineficaz (“Estou soando ridículo!”).
O segundo passo é adaptar seu
comportamento para reduzir o sofrimento. Isso significa fazer ajustes pequenos,
mas importantes, que sejam a um só tempo condizentes com o novo cenário e fiéis
a seus valores. Uma saída seria optar por comportamentos que mesclem elementos
das duas culturas. Marco conseguiu achar um meio termo entre o estilo
participativo de gestão europeu e a versão mais autoritária esperada na Índia.
Dava para ser bem mais “mão na massa” e assertivo sem gritar. Anat conseguiu dar
um feedback mais ajustado aos americanos sem descartar totalmente seu exigente
estilo israelense.
O terceiro passo é apreciar todo o
valor do code-switching. Uma saída é entender como o resultado desejado se
alinha com seus objetivos e valores pessoais, ainda que o comportamento em si
não esteja alinhado. Marco sabia que adaptar seu estilo na Índia o ajudaria a
ser um gestor global mais eficaz, algo muito importante para ele. Seungwoo
conseguiu ser mais moderado com os trabalhadores chineses quando lembrou a si
mesmo o importante que era a operação em Xangai para o crescimento futuro.
Outra sugestão é encarar seu
code-switching da perspectiva da outra cultura, e não exclusivamente por sua
própria ótica. Quando Marco percebeu que o pessoal indiano realmente gostava de
seu novo estilo de gestão, ficou muito mais fácil praticar. Na mesma veia,
quando Anat aprendeu a apreciar as razões para dar um feedback à moda americana
— os colegas ficavam magoados e desmotivados com críticas feitas sem elogios —,
foi mais fácil mudar sua abordagem.
Ser culturalmente fluente significa
ser capaz de chegar a um novo contexto, dominar as normas e se sentir à vontade
no processo. Em situações nas quais o executivo percebe uma séria ameaça a sua
competência e identidade, é comum exibir forte resistência psicológica ao
comportamento condizente. Aprender a ser eficaz na alternância de códigos
culturais é a chave para ser um líder verdadeiramente global.
Andrew L. Molinsky é professor
associado de comportamento organizacional na International Business School
(Brandeis University), nos EUA. Também leciona no departamento de psicologia da
instituição.
SEGUNDA HABILIDADE
Exercer influência digital
Com empresas se tornando menos
hierárquicas, o uso eficaz de redes na internet será crucial para o sucesso.
Thomas H. Davenport e Bala Iyer
Dharmesh Shah, fundador e diretor de
tecnologia da HubSpot, uma firma de marketing na internet, tem uma
impressionante rede online: administra um grupo para empreendedores com 216 mil
membros no LinkedIn, lidera uma comunidade de perguntas e respostas para
start-ups no Stack Overflow e tem mais de 98 mil seguidores no Twitter. Mas
ainda mais invejável do que a dimensão da rede de Shah é como ele a usa. Há
pouco, quando a HubSpot estava contratando, Shah twittou sobre a busca de
engenheiros qualificados pela empresa. Rapidamente, recebeu o nome de centenas
de candidatos, vários dos quais acabou contratando. Em outra ocasião, enquanto
penava com o programa para um novo produto, pediu a ajuda dos seguidores na
rede. Em questão de horas, recebeu várias sugestões; uma pessoa acabou dando
instruções para corrigir os erros do programa.
A maioria dos executivos hoje sabe
como usar ferramentas na internet para montar e expandir sua rede. É fácil
chegar a contatos do setor e a colegas pelo LinkedIn e pelo Facebook, seguir e
ser seguido no Twitter e participar ativamente de iniciativas de mídia social
da empresa. O que falta entender melhor é como um gestor pode usar essas redes
para colher informações e exercer influência num local de trabalho cada vez
mais interligado, mais colaborativo e menos hierárquico. O exemplo de Shah é
perfeito — e traz lições que ajudarão até executivos de setores que não o de
tecnologia.
Para montar uma rede eficaz no
universo virtual é preciso se concentrar, como Shah, em três coisas: reputação,
especialização e posição na rede. Assim como no mundo real, reputação é moeda
de troca: é como você convence gente que não o conhece a buscá-lo, a lhe dar
informações e a colaborar com você. Para estabelecer sua reputação no mundo
virtual é preciso oferecer conteúdo interessante, chamar atenção para sua
presença na internet e levar os outros a difundir e a pôr em prática suas
ideias. Essa reputação pode ser avaliada com serviços como Klout, Identified,
PeerIndex e Empire Avenue, que dão uma nota com base em quanta gente você
influencia, quanta influência você exerce e quão influentes são seus contatos.
No Klout, Shah recebeu 80 (numa escala de 1 a 100).
Para turbinar a reputação e expandir
a rede, indivíduos como Shah, que circulam bem pela internet, fecham o foco em
áreas cruciais de especialização. No caso de Shah, tecnologia e
empreendedorismo — temas centrais em cada um de seus projetos na web. A sua
pode ser vendas, ou RH, ou gestão de organizações sem fins lucrativos. Vejamos
o caso de Barry MacQuarrie, um contador que montou uma comunidade no LinkedIn
com o objetivo de entender como mídias sociais podiam ser usadas em sua
profissão. Hoje, o grupo tem 1.800 usuários, que aconselham MacQuarrie sobre o
tema. Potenciais clientes encontraram MacQuarrie e sua empresa através do
grupo. Especialização envolve demonstrar profundo conhecimento, forjar vínculos
com outros especialistas (dentro e fora de sua organização), comprometer-se a
aprender com eles e estar disposto a oferecer informações relevantes e
recomendações aos outros. O Google+ e ferramentas similares permitem ao usuário
criar “círculos” ou comunidades com interesses comuns; o LinkedIn também está
se fragmentando em grupos de especialistas.
Embora foco seja importante, as
melhores redes na internet também se posicionam como ponte entre grupos até
então desconectados. Isso pode aumentar sua influência, pois lhe dá a chance de
identificar potenciais colaborações ou conflitos e acumular informações
superiores. Shah, que se formou pelo programa MIT Sloan Fellows, tem acesso às
redes de alunos e ex-alunos do MIT, bem como a sua rede de start-ups. Pode
servir de ponte entre empreendimentos de estudantes e investidores, ou entre
start-ups e talentos — e pode até achar oportunidades nas quais ele próprio
gostaria de investir. O LinkedIn Maps e o TouchGraph permitem que o usuário
faça um análise visual de suas redes para identificar contatos, clusters,
densidade e redundância.
Uma pessoa que sabe usar suas redes
usa contatos para obter feedback rápido sobre toda sorte de desafio
profissional — e até mesmo soluções. Sabemos de um gerente em uma empresa de TI
que se valeu da tecnologia de rede social interna para solicitar referências de
um fornecedor que estava considerando. Descobriu que o sujeito fizera um
trabalho mal feito num punhado de projetos recentes e optou por não
contratá-lo. Se sua rede for forte, você está conectado a colegas,
fornecedores, clientes e outros executivos bem situados em seu campo — uma
série de especialistas que podem ajudá-lo a qualquer momento.
O desafio de Shah para eliminar as
falhas do software lá atrás é um exemplo. Considere, também, o caso de Michelle
Lavoie, gerente da comunidade empresarial da provedora de serviços de TI EMC,
que usou seu blog interno para enfrentar um problema ainda maior: como cortar
custos durante a crise financeira de 2008. “Constructive Ideas to Save Money”,
seu post de número 430 na rede, pedia uma trégua na chiadeira sobre uma
alteração polêmica na política de férias, dava cinco sugestões positivas e
incentivava os colegas a darem suas próprias ideias. Um ano e meio depois a
mensagem fora visualizada mais de 26 mil vezes e gerara 364 respostas com
ideias para corte de custos, muitas delas implementadas. Lavoie ganhou
visibilidade em todos os níveis da empresa e garantiu que a travessia da crise
pela EMC fosse uma iniciativa com a participação de todos, e não uma ordem
disparada lá do alto.
O leitor também pode usar sua rede
para testar propostas e estratégias, dentro e fora da organização. Sugira uma
ideia e veja quanta gente a “curte”. Ou dirija certos grupos de pessoas a uma
sondagem online. O feedback pode ajudá-lo a convencer um chefe ou cliente
relutante a aceitar seu ponto de vista. Esses métodos de exploração de fortes
redes virtuais são só o começo. Agora, começam a surgir novas técnicas, como
fazer seus contatos na rede tomarem parte de “games” empresariais, para que
entrem em ação para você ou para sua empresa.
Em breve, esperamos, organizações vão
começar a buscar funcionários com redes de contatos comprovadamente fortes na
web e o histórico de exercer influência por meio delas. Os mais hábeis nesse
quesito serão ainda mais valorizados.
Thomas H. Davenport é titular da
cátedra President’s Distinguished Professor of Information Technology and
Management na Babson College, nos EUA, e consultor sênior da Deloitte
Analytics. Bala Iyer é professor associado de gestão da tecnologia da
informação na Babson.
TERCEIRA HABILIDADE
Dividir atenção de forma calculada
Em vez de evitar a distração,
aproveite a tendência do cérebro a voar.
Cathy Davidson
Sete funcionários da IBM, cada um num
local distinto, participam de uma teleconferência. Enquanto dois falam pelo
telefone, outros dois trocam mensagens de texto sobre a conversa; outro abre
uma planilha, tentando responder a uma pergunta feita no início da reunião;
outro, ainda, busca no Google informações sobre um potencial concorrente; já o
último manda um e-mail para um colega que não está na teleconferência.
Esses indivíduos estão sendo
distraídos pela tecnologia do século 21? Ou a tecnologia do século 21 permitiu
que prestassem atenção de um jeito novo, talvez mais natural, criativo e
produtivo?
Todo mundo conhece a história de
distrações contemporâneas. Na última década o mundo foi de um total de 12
bilhões de e-mails por dia para 247 bilhões, de 400 mil mensagens de texto para
4,5 bilhões, de uma média individual de 2,7 horas por semana na internet para
18 horas. Podemos até seguir trabalhando em salas ou baias destinadas a nos
isolar do mundo lá fora, mas o centro de nossa vida no trabalho é um computador
que nos mantém ligados a esse mundo — a colegas, a clientes, à família, à
comunidade, à diversão e a passatempos; a tudo que sabemos que deveríamos estar
fazendo e a tudo que sabemos que não deveríamos.
Gloria Mark, professora da University
of California em Irvine, mostrou que o trabalhador moderno alterna tarefas uma
vez a cada três minutos, em média. Uma vez que sua atenção em determinada
tarefa é desviada, a pessoa leva em média 25 minutos para retomá-la. Há quem
diga que deveríamos tentar eliminar essas distrações. Mas creio que gestores de
hoje são capazes de lidar — e, às vezes, até de crescer — com elas.
A pesquisa da professora também
mostra que em 44% das vezes em que alguém parou de fazer uma coisa e começou
outra a fonte da distração era “interna”, e não “externa”. Ou seja, a mente
simplesmente voa. Não podemos culpar a tecnologia por nossa falta de foco, pois
o cérebro humano é feito para o multitasking. Feche os olhos por cinco minutos
e veja como sua mente viaja, salta, vai para lá e para cá, volta ao início. O
sucesso em fábricas e escritórios do século 20 pode ter exigido a estrita
atenção a tarefas sistemáticas e sua execução até o fim, mas não é natural para
o ser humano operar asim. Toda a conectividade do século 21 talvez nos dê a
liberdade para reconhecer esse fato.
Por que fazer da total atenção um
ideal e se aferrar a ele num ambiente no qual é tão difícil atingi-lo? Por que
não “desaprender” essa capacidade, como diria o futurista Alvin Toffler, para
deixar o cérebro funcionar do jeito que funciona naturalmente? Em meus estudos
sobre a atenção, encontrei muitas ferramentas que ajudam o gestor a eliminar
distrações. Um aplicativo de produtividade batizado de Freedom permite que se
bloqueie a internet por um determinado período; outro serviço, o Concentrate,
deixa o computador abrir apenas os programas necessários para uma tarefa
específica. Linda Stone, a ex-executiva da Apple que cunhou o termo “atenção
parcial contínua” para descrever nosso hábito de constantemente escanear o
horizonte e nunca se concentrar plenamente numa determinada tarefa, sugere
simplesmente desativar a tecnologia.
Controlar o fluxo de informação
ajuda, sim, certas pessoas a se sentirem mais focadas e produtivas em certas
situações. Mas não está claro que essa sensação reflita a realidade. Um estudo
de 300 trabalhadores realizado na University of Melbourne mostra que, embora
gente que usa a internet no trabalho para coisas pessoais acredite que o uso
derruba sua produtividade, na verdade aumenta a produtividade em 9%. Isso não
vale para “viciados” em internet que usam mídias sociais em excesso. Já para
aqueles cuja mente simplesmente vagueia entre trabalho e diversão, uma pausa
para navegar na internet pode ser o revigorante cognitivo que melhora seu
desempenho quando voltam à tarefa em mãos. Em inglês já existe até nome para
isso: WILB, ou “workplace internet leisure browsing”. Quem sabe os chefes não
vão adotar a prática como uma distração positiva que alivia a tensão e aumenta
a criatividade?
Outra estratégia para aumentar a
produtividade é dividir deliberadamente a atenção e potencializá-la, como fez o
pessoal da IBM na teleconferência. Charles Hamilton, um líder de estratégia de
e-learning na IBM, explica que a participação de gerentes em reuniões virtuais
é mais intensa devido às mensagens de texto simultâneas, que eles chamam de
“back chatting” e que hoje são de praxe; aliás, quando o recurso não está
ligado, o pessoal começa a temer que alguém não esteja sendo ouvido. Ao
incentivar essas conversas paralelas, os gerentes põem para trabalhar a mente
errante. Além disso, promovem uma participação mais igualitária em reuniões em
grupo — uma pessoa pode responder sem interromper — e garantem que a conversa
inteira flua de modo interativo e produtivo. A atenção é “distribuída” de forma
mais uniforme e fluida, em vez de ser dominada por um ou dois participantes
loquazes que deixam todos os demais desmotivados e distraídos.
No plano individual, um bom exemplo é
o do desenvolvedor de software Aza Raskin, ex-Mozilla e hoje presidente da
start-up Massive Health. Raskin sabe que não pode passar a jornada inteira,
todos os dias, focado apenas nas tarefas mais importantes. Mas coloca limites a
essa atenção dividida. Como? Usando dois computadores em sua mesa e outro um
pouquinho mais longe. O trabalho que precisa fazer se encontra no primeiro
aparelho, o de mais destaque, que não está conectado à internet. Ao lado há
outro computador com acesso a e-mail e internet. O terceiro, a uma curta
distância dali, está ligado ao Twitter e ao blog do executivo, com um lembrete
intermitente do trabalho “de verdade” que o espera em sua mesa. Sua estratégia
é tornar a procrastinação difícil, mas não impossível, pois o foco total e
absoluto está fora de seu alcance — e nem é necessariamente desejável no
ambiente de trabalho de hoje. Os três computadores de Raskin o ajudam a
programar interrupção e divagação em seu dia.
Nem todo mundo tem o mesmo estilo ou
as mesmas exigências de atenção, de modo que um bom gestor do século 21 precisa
descobrir como deixar o trabalho multimídia ajudar o pessoal. Olhar a esmo pela
janela é tão importante para a criatividade quanto entrar no Facebook para ver
as últimas fotos do sobrinho e em seguida voltar a trabalhar com um estado de
espírito melhor, mais leve, mais produtivo. Estudos mostram que o acaso, a
interrupção, a distração e a diferença aumentam nossa motivação a aprender e
resolver problemas, tanto individual como coletivamente. O segredo é aceitar e
até criar interrupções positivas.
No futuro, a atenção parcial contínua
talvez não seja vista como problema, mas sim como uma habilidade nova, crucial.
E talvez nem chamemos isso de multitasking — mas sim de multi-inspiração.
Cathy Davidson é titular da
cátedra John Hope Franklin Humanities Institute Professor of Interdisciplinary
Studies na Duke University, nos EUA. Seu último
livro é Now You See It: How the Brain Science of Attention Will Transform the
Way We Live, Work, and Learn (Viking, 2011).
retirado da revista HBR, de quinta-feira, 12 janeiro, 2012 - 10:58
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