No segundo dia, o fato se repetiu. Eles tornaram a chegar cedo
e, novamente, o carro foi colocado logo na entrada. Outra vez tiveram que
atravessar todo o extenso pátio do estacionamento, até chegarem no escritório.
No terceiro dia, um tanto mais confiante, ela não se conteve e
perguntou ao colega: "por que é que você deixa o carro tão distante, quando há
tantas vagas disponíveis? Por que não escolhe uma vaga mais próxima do acesso ao
nosso local de trabalho?"
A resposta foi franca e rápida: "o motivo é muito simples. Nós
chegamos cedo e temos tempo para andar, sem perigo de nos atrasarmos. Alguns dos
nossos colegas chegam quase em cima da hora e se tiverem que andar um trecho
longo, correm o risco de se atrasarem. Assim, é bom que encontrem vagas bem mais
próximas, ganhando tempo."
O gesto pode ser qualificado de companheirismo, coleguismo. Não
importa. O que tem verdadeira importância é a consciência de colaboração. Ela
recordou que, algumas vezes, em estacionamentos, no Brasil, vira vagas para
deficientes sendo utilizadas por pessoas não deficientes. Só por serem mais
próximas, ou mais cômodas. Recordou dos bancos reservados a idosos, gestantes em
nossos ônibus e utilizados por jovens e crianças, sem preocupação alguma.
Lembrou de poltronas de teatros e outros locais de espetáculos tomadas quase de
assalto, pelos mais ágeis, em detrimento de pessoas com certas dificuldades de
locomoção. Pensou em tantas coisas. Refletiu. Ponderou...
E nós? Como agimos em nossas andanças pelas vias do mundo?
Somos dos que buscamos sempre os lugares mais privilegiados, sem pensar nos
outros? Alguma vez pensamos em nos acomodar nas cadeiras do centro do salão,
quando vamos a uma conferência, pensando que os que chegarem em cima da hora,
ocuparão as pontas, com maior facilidade? Pensamos, alguma vez, em ceder a nossa
vez no caixa do supermercado a uma mãe com criança ou alguém que expresse a sua
necessidade de sair com maior rapidez?
Pensemos nisso. O ensinamento vale para cada dia e situação das
nossas vidas.
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